Vou encontrar uma jornalista hoje na Galeria.
Não gosto de contatos pessoais com jornalista. Prefiro trocas de e-mails, talvez por proteção, gostaria de ter uma crítica desse trabalho, alguém que pensasse junto, nem que fosse para destruí-lo.
Mas as coisas perdem o controle. Hoje ouvi na CBN uma chamada para a exposição, a dica cultural do dia.
Estranho ouvir o próprio nome reinteradas vezes no Radio.
Vou encontrar a jornalista e releio algumas observacões que fiz antes de começar a exposição, transcrevo:
Algumas reflexões sobre a Exposição ARTISTA TRABALHA
Pensei em uma performance contínua.
Uma ligação muito íntima com a exposição.
A exposição como uma parte fundamental da minha vida.
Sem nada para vender
Sem objeto
Relação “tete-a-tete” com o visitante.
Um espectador por vez.
A galeria como um dispositivo relacional.
Um espaço vazio, apontando para fora. Tudo fora.
O observador confinado e o artista em trânsito, em um lugar outro qualquer, os dois ligados por um desejo de arte, por uma frágil conexão.
Uma tentativa de me inventar o tempo todo. Um eu que não existe pronto e fechado para se expor na galeria mas que utiliza a arte e a galeria como forma de auto-invenção. No risco de fazer a minha “performance” sem saber para quem.
Não importa se a pessoa não ligar. Importa saber que há um contato com o artista, um canal para outra coisa que não está ali. Ao mesmo tempo tudo é muito explícito, muito objetivo.
Ver o telefone e ter dúvida. Eu quero esse contato?, se diz o visitante. Mas porque então eu vim a uma galeria? Vim porque é fácil, e agora que está difícil? O que faço?
Quero criar um lugar onde eu possa não dizer nada.
Vazio, conectado com o fora mas silencioso, um silêncio habitado por uma virtualidade. Um espaço de possível que abarque a cidade inteira.
Por uma obra virtual por um contato virtual, por um artista que pode ser uma secretaria eletrônica ou um sinal de ocupado.
É porque hoje eu posso, porque sou desconhecido, porque o espaço não é muito freqüentado. Porque não há como pensar a obra sem a relação com o espaço em que ela se encontra e sem as condições de possibilidade que a fazem surgir.
Este projeto seria impossível na Bienal de São Paulo, por exemplo.
É um trabalho sobre espaço, muito mais que sobre comunicação. É um trabalho sobre mobilidade – o artista em trânsito e o espectador fechado. É um trabalho sobre ser artista e estar inventando incessantemente uma forma de ser artista. É um trabalho sobre o campo das artes e seus sistemas de produção. – Quando o dinheiro acaba, acaba a “performance”. Quando a exposição acabar não sobra materialmente nada.
Porque ele conecta a vida com a arte. Porque quem liga – ou não – tem que imaginar esta arte sendo exercida em algum lugar - na cidade que se torna cenário.
Porque o que há pouco tempo o que era high tech – esta obra seria impossível há dez anos – hoje é o banal, low-tech, acessível a todos. E daqui há pouco outra coisa no lugar do telefone.
São considerações teóricas quase que não dão conta do fato de serem pessoas do outro lado da linha, das conversas terem um início e um fim, de haver uma expectativa, uma possibilidade de suprí-la ou não.
Ontem, no final do dia o telefone tocou e eu não ouvi, foi a primeira vez que alguém foi lá na galeria e não achou ninguém do outro lado.
as considerações acima não d˜åo conta da presença que o celular passa a ter na minha vida nesses dias.
temo a extensão desse projeto
Dia 2 - sobram 264 reais