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21.8.07

um ano e meio depois

Um ano e meio depois volto a esse blog que serviu como um diário da exposição

Tudo parece estar muito longe.

Volto porque encontrei o Daniel Lisboa no ônibus e ele me perguntou se eu não estava fazendo mais vídeos. Aí lembrei que o Artista Trabalha; escrevendo uma tese.

Voltar ao Blog me faz lembrar a tensão da época da exposição, a experiência dos telefonemas bizarros, a dificuldade em explicar a exposição, o descaso de tantos, etc

A exposição me parece distante pois hoje não faria nada parecido, me sinto distante dessa ironia.

mesmo do Ação e Dispersão, que é o embrião dessa expo. Gosto de saber que o trabalho continua sendo exibido, mas estou distante.

Que bom.

24.11.05

Dia 26

e alguém escreve no livro de visitas que estou me repetindo.
que é sinistro.
Curioso.
entendo e fico tocado com a crítica, mas será que entre esse trabalho e o Ação e Dispersão a pessoa não percebe a diferença de performance, a forma como sou tocado pelo que faço, a diferença de público?

e ontem alguém ligou, eu atendi e disse, não posso falar agora, e a pessoa insistiu e eu falei. Não posso! e ele desligou, foi curioso, forte. O artista para ele tinha que estar disponível mesmo.

e o dinheiro vai acabar antes do último final de semana, é o que tudo indica. No último final de semana o tel estará parado.
Um abraço pro André Brasil que não foi na exposição.

19.11.05

DIA 23

POis há dois dias ninguem ligava porque o telefone não estava funcionando.
Triste. Chego lá e mulher da cafeteria me avisa,
mas como pode ser a mulher da cafeteria? E o pessoal que trabalha lá?
Ela falou que falou com o pessoal, aqueles que ficam vendo TV e ninguém fez nada.
Mas eu tinha deixado meu telefone lá.
é, mas ninguém toma iniciativa nenhuma

Outro dia cheguei para a servente e falei: O vidro da porta está muito sujo, v. não tem um pano com alcool?
Ela foi lá dentro e pegou o pano com alcool e me deu:
ARTISTA TRABALHA,
é o nome da exposição.

Vamos, faltam 121 reais ou 10 dias, o que acabar primeiro.
Quero que esse fim de semana seja, forte, vou me preparar.
mais silêncios, mais não me enche, mais me fala tudo.
como se algum dia tivesse havido isso

17.11.05

DIA 22

Há dois dias ninguém liga.
esqueci até de sair com o telefone.
a exposição já pode acabar.
faltam 10 dias

15.11.05

DIA 20

Uma chuva de telefonemas
Um alemão que disse: "eu entendo exposições engraçadas"

Essa exposição é altamente pedagógica - tipo aqueles documentários....
"eu nunca vi nada igual" - volta e meia alguém diz no máximo da empolagação

"vamosfalar rápido que estou na suiça"

"fala comigo que eu sou linda!"

quantos annos v. tem?, me pergunta ele.
Pra que? V. quer me encaixar onde?

E a menina subiu na bancada e falou para todos o que eu ditava.
Isso é uma charlatanisse
Essa exposição é demodé
Velha,
O artista deveria estar limpando o chão da galeria.

13.11.05

Dia 18

Ninguém ligou

12.11.05

DIA 17/2

Não vou à exposição há muitos dias.
A segunda coluna da "contabilidade" já está sendo usada. Essa é uma deliciosa dimensão, ir lá e ter essa marca tão frágil das pessoas que passaram e que escreveram os valores na parede, algumas delas. O que escrever, na maioria dos casos (menos 1), fui eu que disse, então as marcas pessoais são muito frágeis mesmo. Vai ser muito bom rever a galeria e ela estar diferente.

Vernissage. Fotos





DIA 17

- Você transforma a produção em obra de arte.
Foi uma leitura gostosa de ouvir, mas será que isso é bom? Acho meio pouco
E mais pessoas pra elogiar - ahumm
E depois de muito tempo, - Eu te conheço, você quer que eu diga quem eu sou?
Não!

E uma pessoa escreveu dentro do espaço destinado ao valor do dia: - "Artista não atendeu".
Achei impressionante ela ter por um lado desrespeitado a regra e ter escrito algo além de números na parede.
Mas, ao mesmo tempo ela respeitou o espaço, não saiu nem um pouquinho do quadrado destinado ao valor do dia. é curioso, uma espaço galeria que continua meio sacralizado.
A caneta que se encontra ao lado do telefone e que peço para as pessoas usarem para escrever o valor do dia continua lá, ninguém, nem por descuido, levou para casa.

11.11.05

Dia 16/2

Parou de chover, sexta-feira.
Minha concentração em outras coisas me distancia da exposicão. Talvez porque ela tenha um problema de não ter muitas variações com o dispositivo tal qual. Ou melhor, os telefonemas não variam, Teria que inventar novos dispositivos para atender as ligações. Acho que esse é o próximo passo.
Limites de tempo, forçar uma temporalidade para quem liga, forçar a pessoa a desligar o telefone, em suma, não fazer da ligação uma ligação.
Acho que já explorei bem os silência, as ausências de discurso, agora é experimentar novas variacões algo desautomatize as ligações.
Ceci n'est pas un appele!

DIA 16

-Olha, pra você conversar comigo vai ter conversar 7 minutos sem desligar, topa? Sim ou não.

10.11.05

DIA 14

Nadie
Ninguém ligou.

DIA 13

Na terça-feira a noite o CEP 20000 fez com que o SPorto ficasse lotado e muita gente visitou a exposição e me ligou. Foi estranho. Muita gente gosta demais. Acho que a exposição está explicita demais, não campos de sombra, dúvidas, tudo amarrado. Por isso não posso ser uma continuidade do explicito, é preciso dar um passo atrás, colocar a exposição em discordância com a lógica que está na sala e isso só pode ser feito na hora do contato telefônico. Por isso as vezes não atendo, mas preciso inventar outras formas de não ser essa continuidade. Nos jornais se dá muita atenção ao fato do telefone estar ligado ao meu telefone, mas a exposição é muito mais que isso, ela existe mesmo que n˜åo haja contato. O espaço deve ser experimentado. Sem falar do efeito: isso é arte. Quase didático talvez mas gosto disso.
Na terça falei sobre arte conceitual - que seria maior se eu não atendesse o telefone, mas que não nos banadona quando nos falamos por telefone.
Uma pessoa me recitou um poema e logo depois foi apaludida por outros que estavam na galeria. é ridículo, mas o sucesso traz aponta para problemas, só.

6.11.05

DIA 11/2

Um domingo praticamente sem contatos.
Nao há regra, ontem, sábado, muita gente, hoje, que estava disponível para inventar fora, tentar me reconectar com a aexperiência dessa expo...
E a loucura é que já penso fora e isso é agora.

Dia 11

é estranho, me acostumo, já sei como reagir, as pessoas não me surpreendem mais.
Isso não pode acontecer, a exposição estaria acabada

DIA 10

Como uma anti-performance
prepara-se tudo para a comunicação mas salva-se o silêncio

e as velhas amigas das artes plasticas me ligam me mandam beijos

obrigado por esse trabalho, me diz o pernambucano

1.11.05

Dia 8/3

-E se a gente fosse tomar um café mais tarde.
silêncio

Dia 8/2

O desafio é não diminuir o vazio da exposição.
Manter amplidão, garantir que o tekefone não feche.
Por isso, claro, o mais fácil seria não atender, mas não gosto dessa opção, ela é cínica talvez.
Atendo.
-Mas é ridículo Você passar um mês atendendo telefonemas.
-Mas eles tem sido desafiadores. Cada telefonema traz um silêncio.
-Mas você fica parecendo um cara do telemarketing de uma empresa.
-Com a diferença que não há produto. Mas você acha que tanto trablaho é vergonhoso?
-Mas você não tem mais nada para fazer?
-Mais que isso?
-Não precisa ganhar dinheiro?
-Economizei toda minha vida para ficar aqui este mês te esperando.
-Que bom que eu liguei

DIA 8 - No Jornal do Brasil

Linha direta com o artista

Intervenção de Cezar Migliorin estimula visitantes do Espaço Sérgio Porto a telefonarem para ele


Bianca Tinoco


Migliorin e o aparelho na galeria: ‘A obra só funciona quando não estou aqui’


Um dia depois de abrir a exposição Artista trabalha, no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Humaitá, o artista carioca Cezar Migliorin recebeu uma confusa ligação no celular. ''Nossa, ele atendeu mesmo! Vem cá falar com ele'', dizia a voz na linha a uma terceira pessoa, que se esquivou do convite. A interlocutora era uma servente do Espaço Sérgio Porto, impressionada porque o aparelho de telefone exposto na sala, único objeto da exposição, realmente disca para o artista, conforme enunciado na parede da mostra.

- Mais seis pessoas me ligaram naquele dia. Uma ficou sete minutos me questionando sobre o vazio da sala, sobre o que eu pensava do vazio. Como saber quando desligar um telefonema desses? Eu, que nunca tive insônia, nessa noite acordei às 4h, pensando nas conseqüências do trabalho. Na teoria tudo é tranqüilo, mas quando entra o humano a coisa destrambelha - diz Migliorin, 36 anos, doutor em Comunicação pela UFRJ.

Mais afeito às videoinstalações, o artista conta que não pôde montar nenhuma porque o Espaço Sérgio Porto (de administração municipal) não dispõe de vídeos e televisores. Foi da falta de recursos que veio a solução para Artista trabalha, cujas contas estão listadas numa das paredes. Dos R$ 1 mil que recebeu da Prefeitura do Rio, Migliorin pagou R$ 310 de impostos, R$ 300 pela pintura da sala e R$ 50 pelo aparelho de telefone - também incluiu no relatório pró-labore de R$ 50. Os R$ 290 restantes bancam as ligações entre o telefone fixo na mostra, habilitado só com a tecla de rediscagem, e o celular do artista. Diariamente ele passa no Espaço Sérgio Porto para anotar na parede quanto resta da verba. Há o risco de o dinheiro acabar antes da mostra, no dia 27 de novembro. O resultado será o telefone mudo.

- Evito ficar muito tempo na galeria porque a obra só funciona quando não estou aqui. Não tem graça alguém ligar comigo do lado, só para ver se eu atendo. Por isso, desliguei o telefone no vernissage - conta o artista sobre a abertura, no último dia 24, que, segundo o livro de visitas, contou com presença do cineasta e cantor americano Vincent Gallo, que esteve no Rio para o TIM Festival.

Migliorin lembra que o dinheiro é um elemento que atravessa sua trajetória, em obras como o vídeo Ação e dispersão (2002) - no qual se filmava viajando, sem dormir duas noites na mesma cidade, até a verba acabar.

- É um assunto meio proibido, todo mundo reclama de falta de dinheiro mas não questiona. Em Ação e dispersão, é o dinheiro que estabelece a relação temporal, como em Artista trabalha. É sempre a verba que pauta o limite da obra de arte, o que fiz foi explicitar isso - diz.

Em seu trabalho anterior, o projeto Artista sem idéia, Migliorin mandou para 200 e-mails de formadores de opinião um edital no qual anunciava que pretendia comprar uma videoarte para chamar de sua. Ele oferecia US$ 1 mil, dos US$ 4 mil que recebeu por Ação e dispersão no prêmio Viper Basel 2004, na Suíça, para escolher um filme ou vídeo de qualquer duração. As regras eram as seguintes: ''1. a obra deve estar pronta e ser inédita; 2. uma vez vendida, os direitos sobre a obra serão integralmente cedidos ao idealizador do projeto, Cezar Migliorin; 3. a obra não será alterada, com exceção dos créditos, onde passará a constar: um filme/vídeo de Cezar Migliorin''. A proposta causou ira entre os puristas, que mandaram e-mails furiosos e escreveram comentários no blog do projeto (www.artistasemideia.blogspot.com).

- Meu trabalho foi apenas mandar as 200 mensagens. Consegui reportagens em cinco estados e uma mobilização gigantesca. Aparecia em listas de editais ao lado da Petrobras e do BNDES, como se fosse uma empresa. Essa questão de eliminar o nome do autor mexeu com os brios de alguns, o que me fez perguntar: afinal, o artista faz uma obra para colocá-la no mundo ou pelo reconhecimento? O lado enigmático é que, a partir de agora, qualquer vídeo que eu exibir pode ser este, não feito por mim - conta.

Depois da temporada de Artista trabalha Migliorin volta a participar de festivais mundo afora com seus filmes. O mais recente é Meu nome é Paulo Leminski (2004), de cinco minutos, no qual obriga os filhos Diego e Elisa, crianças, a recitar o poema homônimo ao curta-metragem. Os dois vão do enfado à raiva.

- Quando planejo um trabalho, somente estabeleço regras, não penso no que vai acontecer. Na verdade, minhas obras são pontes para que eu possa experimentar situações novas - resume.

Dia 7

Se pudesse daria sempe uma tarefa aos que me ligam.
Escrever o valor na parede é o máximo que posso pedir.
-Adorei a exposição, foi ele logo me dizendo
- que bom, você não quer escrever na parede quanto ainda tem de dinheiro para pagar o telefone?
-Claro.
-231.
-Escreverei, tchau
-Tchau

Essa conversa é a manutenção do espaço vazio da galeria.

o segundo telefone dizia
- Você atende. Que excentrico!
Definição perfeita! Uma exposição sem centro

Dia 6 Domingo

Aguardei o domingo com expectativa, talvez muitos telefonemas, o que fazer?
Talvez o melhor desse trabalho esteja na pessoa não ligar. Nessa virtualidade que passa pelo telefone. A materialização é sempre menos.
Quando alguém ligou, no Domingo, quase reclamei.
- Estou no meio de um almoço de família. Distante da obra.
E, novamente, como já aconteceu algumas vezes, o que aparece é uma pergunta de controle, uma pergunta que tenta localizar “de onde” eu falo.
- Onde você mora?
- qual sua formação?
Depois do almoço sai sem o celular, não queria mais falar com ninguém.
O que surpreende as pessoas quando atendo é o fato de não haver um discurso do outro lado, de não haver uma fala pronto, mas um alô. Ou até mesmo alguém que reclama do mau humor do dia.
Não falar com ninguém talvez fosse dar continuidade a um certo silêncio que cerca a obra; na mídia, no meio, etc.

29.10.05

DIA 5

O primeiro sábado.
um fracasso, pelo menos pelo número de pessoas que ligaram.
Fui até a galeria as 15:40 e a porta ainda estava trancada. Um fracasso!
Foram 4 telefonemas.
o primeiro atendi durante uma roda de capoeira e deixei a pessoa ouvir o som.
o segundo não atendi, o terceiro era um amigo que falou - Estou aqui! e o quarto atendi e a pessoa desligou.
Gostei dessa reação.

28.10.05

Dia 4/1

E várias, muitas pessoas dizem: mas você não vai gravar o que as pessoas dizem?
É interessante, nunca acreditei que as pessoas pudessem dizer algo de interessante.
Me enganei. Elas não falam, até agora algo que mereça ser registrado, algo que provoque efeitos para além de nós mesmos, envolvidos na conversa. Mas elas me surepreendem assim mesmo. XXX me ligou, falou da materialidade – ou da falta dela na minha obra – falou da história da pintura e do aparecimento da fotografia, falou que acreditava-se que pintura morreria com a chegada da fotografia, falou de Rodin e de escultura e depois de tudo isso perguntou minha formação e também me perguntou se eu não conheceria alguém que estivesse precisando de um caseiro em um sitio. Me tocou, se XXX ler isso, forte abraço.
Ah, foi ele que anotou o valor do dia na galeria.
-Esta feito, disse ele depois de dizer que pela primeira vez algo que ele fizera estava na parede de uma galeria de arte.

DIA 4

O desastre da arte contemporânea é pensar apenas a estética como estética. A vida não é estética, o trabalho não é estético. Eis a perversão, eis a destruição do poético e da experiência estética, dentro e fora das galerias e dos museus.

27.10.05

Dia 3/4

A obra somos nós.
Tu ai e eu aqui, pela cidade.

Dia 3/3

Me dei conta hoje, depois de um telefonema que o telefone é encarado de duas maneiras distintas pelas pessoas que vão até a galeria.
Para umas, a obra é falar ao telefone, se conectar com o artista.
Para outras, se conectar com o artista é para comentar a obra que está na galeria.
É curioso.
Acho que transito entre as duas. A galeria está linda, forte.
Mas não gosto de receber um telefone que elogia a obra, acho pouco interessante, mas respeito a vontade de algumas pessoas expressarem seu entusiasmo.

Não, o trabalho não está nem em um nem em outro. Mas não quero fazer papel de obra de arte. Quando me ligam, nem sei se a ligação vem da galeria, apenas atendo, como alguém que tivesse me ligado. Preciso esquecer da galeria agora e receber telefonemas, apenas.

Dia 3/2

e o Roberto canta
- De que vale tudo isso....

Dia 3/1

E hoje apenas um telefonema, de uma pessoa conhecida, o que não tem a menor graça - por isso não quis vernissage
vivo uma certa ansiedade que não me agrada muito.
fui até o Sérgio Porto de bicicleta para sair um pouco dela. não sei se adiantou.
o ar condicionado da galeria é ótimo.
deixei lá uma caneta para pedir para a pessoa que ligar escrever o valor na parede, um círculo; ela liga, gasta e escreve o gasto.

Dia 3

- Essa exposição é uma crítica aos políticos, que recebem dinheiro e não fazem nada.
foi o que ela me disse.

26.10.05

Dia 2

Vou encontrar uma jornalista hoje na Galeria.
Não gosto de contatos pessoais com jornalista. Prefiro trocas de e-mails, talvez por proteção, gostaria de ter uma crítica desse trabalho, alguém que pensasse junto, nem que fosse para destruí-lo.
Mas as coisas perdem o controle. Hoje ouvi na CBN uma chamada para a exposição, a dica cultural do dia.
Estranho ouvir o próprio nome reinteradas vezes no Radio.
Vou encontrar a jornalista e releio algumas observacões que fiz antes de começar a exposição, transcrevo:
Algumas reflexões sobre a Exposição ARTISTA TRABALHA
Pensei em uma performance contínua.
Uma ligação muito íntima com a exposição.
A exposição como uma parte fundamental da minha vida.
Sem nada para vender
Sem objeto
Relação “tete-a-tete” com o visitante.
Um espectador por vez.

A galeria como um dispositivo relacional.

Um espaço vazio, apontando para fora. Tudo fora.
O observador confinado e o artista em trânsito, em um lugar outro qualquer, os dois ligados por um desejo de arte, por uma frágil conexão.

Uma tentativa de me inventar o tempo todo. Um eu que não existe pronto e fechado para se expor na galeria mas que utiliza a arte e a galeria como forma de auto-invenção. No risco de fazer a minha “performance” sem saber para quem.

Não importa se a pessoa não ligar. Importa saber que há um contato com o artista, um canal para outra coisa que não está ali. Ao mesmo tempo tudo é muito explícito, muito objetivo.
Ver o telefone e ter dúvida. Eu quero esse contato?, se diz o visitante. Mas porque então eu vim a uma galeria? Vim porque é fácil, e agora que está difícil? O que faço?

Quero criar um lugar onde eu possa não dizer nada.
Vazio, conectado com o fora mas silencioso, um silêncio habitado por uma virtualidade. Um espaço de possível que abarque a cidade inteira.
Por uma obra virtual por um contato virtual, por um artista que pode ser uma secretaria eletrônica ou um sinal de ocupado.

É porque hoje eu posso, porque sou desconhecido, porque o espaço não é muito freqüentado. Porque não há como pensar a obra sem a relação com o espaço em que ela se encontra e sem as condições de possibilidade que a fazem surgir.
Este projeto seria impossível na Bienal de São Paulo, por exemplo.

É um trabalho sobre espaço, muito mais que sobre comunicação. É um trabalho sobre mobilidade – o artista em trânsito e o espectador fechado. É um trabalho sobre ser artista e estar inventando incessantemente uma forma de ser artista. É um trabalho sobre o campo das artes e seus sistemas de produção. – Quando o dinheiro acaba, acaba a “performance”. Quando a exposição acabar não sobra materialmente nada.

Porque ele conecta a vida com a arte. Porque quem liga – ou não – tem que imaginar esta arte sendo exercida em algum lugar - na cidade que se torna cenário.

Porque o que há pouco tempo o que era high tech – esta obra seria impossível há dez anos – hoje é o banal, low-tech, acessível a todos. E daqui há pouco outra coisa no lugar do telefone.






São considerações teóricas quase que não dão conta do fato de serem pessoas do outro lado da linha, das conversas terem um início e um fim, de haver uma expectativa, uma possibilidade de suprí-la ou não.
Ontem, no final do dia o telefone tocou e eu não ouvi, foi a primeira vez que alguém foi lá na galeria e não achou ninguém do outro lado.
as considerações acima não d˜åo conta da presença que o celular passa a ter na minha vida nesses dias.
temo a extensão desse projeto
Dia 2 - sobram 264 reais

25.10.05

Dia 1/3

um primeiro dia que me surpreende, que me conecta com algo que começa com tanta intensidade que assusta
um primeiro dia que me dá uma dimensão do que pode a ser esse trabalho. Sempre soube que ele era artes plásticas, de galeria, mas não era só para iniciado, por isso não queria a vernissage.
artes para tocar as pessoas que passam na rua. é porque ligam, porque passam v´rios minutos "na" obra que esse trabalho vale a pena. porque o dia de hoje foi uma grande experiência para o artista.

Dia 1/2

7 pessoas ligaram
estou descobrindo o que fazer, preocupado com a atenção que esse trabalho me demanda.
falei com uma pessoa durante 7 minutos. ela me perguntou o sentido do vazio, falou que normalmente não ligaria.
outra chamava pessoas em volta.
- Fala, é o artista. Elas estão com vergoha.
- Vem falar, dizia elas para pessoas em torno.
Acho que esse trabalho vai se tornar um fenômeno de popularidade.
Todas as pessoas em torno do Sérgio Porto inmpressionadas com a possibilidade de falar com o ARTISTA. é esse lugar mítico que o trabalho faz experimenta.
Um espanhol ligou, falei rápido com ele.
estou experimentando.
essa mulher por exemplo, falou durante 7 minutos. é muito tempo dedicado a uma obra contemporânea. que efeito esses 7 minutos tiverema nela, que relação com a arte e com o mundo se produz à partir desses 7 minutos. Definitivamanete é um trabalho que provoca efeitos, em mim e nos outros.
Trabalho estranho, mas de uma simplicidade louca. Não achei que logo no primeiro dia eu estaria tão tocado com a performance, com os efeitos, com as relações fugazes e tão singulares que já se deram hoje.
Foram mais ou menos 12 minutos de ligacões.

Dia 1

A primeira pessoa ligou às 13:50.
Uma hora e meia depois de aberta a galeria, era um conhecido.
O telefone funciona, ele se divertiu e ficamos 1min. e 50 segundos falando.
Justifei a falta de convite para a vernissage,
esta começando,

Vernissage

Não chamei ninguém.
Foi estranho, normalmente divulgo meus trabalhos, aviso os amigos e os nem tão amigos assim.
Optei pelo silêncio, queria também que as pessoas ficassem sabendo por outros, pelos jornais que não deram nada.
Poucas pessoas conhecidas no primeiro dia e o telefone ainda parou.
decidi então que el não deveria funcionar naquele dia, não deveria eu gastar o $ estando ali.
Foi o que fiz. Na vernissage na há obra, ou há. O que me surpreendeu nesse trabalha foi o fato de a sala ter ficado interessante, um espaço forte em si.
Para os que estavam conhecendo meu trabalho ali a surpresa foi grande.
O que a Prefeitura disse?
Eles aprovaram esse projeto?
Essas coisas,
Silêncio.
deles e meu.
estou com vontade de fazer coisas bonitas, para os amigos talvez.
bebi cervejas e conversei com algumas pessoas interessadas, mas o desconforto desse trabalho toca a todos - os artistas, se dividem entre compartilhar a idéia ao mesmo tempo em que fazem parte do mundo criticado, como eu.
Mas sem humor....

30.9.05

29.9.05

Artista Trabalha

Espaço reservado para o Blog/performance de Cezar Migliorin
Parte da Exposicão artista trabalha.
Espaço Sérgio Porto 1
Galeria 1 - 24.10